Às vezes, sinto-me culpada. Culpada por tantas vezes te ter dado pouca atenção. Por nem sempre ter paciência para ti. Por ter tão pouco tempo para te dedicar e ter mais mil e uma tarefas a fazer antes e depois de vos passear. Por não ter vontade quando chovia ou quando estava demasiado cansada. Sabia que conseguias cuidar de ti próprio. E isso deixava-me mais tranquila. Mas bolas... podia ter aproveitado para te mimar tantas e tantas vezes mais.
Perguntei mil vezes a mim mesma se fiz tudo o que podia fazer. Se aliviei as tuas dores. Se entendi o teu sofrimento. Se cuidamos o suficiente de ti. Se não teremos sido egoístas ao deixar-te partir, mais do que teríamos sido se te mantivéssemos connosco. Se, se e se...
À noite, na hora de adormecer, ainda são algumas as vezes em que te vejo ali deitado no chão. Troco o nome do Artur pelo teu. Passeio-o no sítio do costume e imagino-te a caminhar sempre de olho nele, como costumavas fazer.
E quando o vejo assim de olhos vidrados, com o olhar fixado, pergunto-lhe sempre se está a pensar em ti, se tem saudades tuas. Claro que têm! Ninguém te admirava mais do que ele. E mimo-o. Encho-o de mimos por ele e por ti. E por mim também, para ter a certeza que não preciso sentir-me culpada.
Só passaram 60 dias desde que nos deixaste. Parece que foi uma eternidade. Mudou tanta coisa desde então. E perdi a conta à quantidade de pessoas que me perguntaram por ti. Porque eras um bocadinho de toda de gente, pela personalidade que não deixava ninguém indiferente. São 60 dias sem o nosso companheiro e ainda é tudo tão difícil.
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